Sábado, 3 de Abril de 2010
Recordar África
Saudades é o cheiro a terra queimada após uma boa e inesperada chuvada, o cheiro das queimadas, o pôr-de-sol único, o sentir das gentes, o batuque que me adormecia, a alegria do dia a dia, o ambiente entre as pessoas.
Amanhecer pelas 4horas e o cair abrupto da noite com todo o seu colorido e, as águas, puxa que águas limpidas, quentes dum verde esmeralda translúcido. Claro que falo de Moçambique pois a sua gente é diferente.
Voltei á minha terra em 2007 e foi voltar a estar em locais da minha adolescência, ver o liceu, a casa onde vivi, a casa da minha avó, bom, nem sei descrever as emoções sentidas a partir do momento em que pisei o 1º degrau da escada do avião e vi que estava tudo igual, receber aquele cheiro tão especial de África.
Sexta-feira, 2 de Abril de 2010
Pureza
As águas correm lentamente num movimento irregular e de rara beleza salpicando de frescura os dedos pequeninos que levemente e a medo tocam de forma envergonhada a sua superficie.
Doce meninice, pura de magia, plena de sentires....
Como se perde a pureza nas mãos dos homens.
Quinta-feira, 1 de Abril de 2010
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Era um dia de sol intenso como tantos outros naquela África saudosa. Os mais velhos organizaram mais um dia de convívio e lá fomos para a Serra fazer um piquenique. Entre pais, tios, primos e amigos éramos um número grande que, senão diariamente quase todos os dias se viam. A família eram todos pois a Metrópole encontrava-se longe e distante e, para alguns de nós, os mais novos era só um local no mapa da Europa. Após uma boa almoçarada, a juventude resolveu afastar-se um pouco do grupo dos adultos que já se encontravam entretidos numa boa jogatina de cartas (o King era o jogo dos homens e a Canasta das mulheres). Lá fomos nós rindo e brincando pela picada até que assentamos debaixo duma boa sombra fresca. Entre anedotas, cantorias, jogo do prego e outros, lá nos íamos divertindo quando, repentinamente na curva surge uma manada de vacas e bois. De imediato saltei do chão e fiquei petrificada sem saber bem o que fazer. O João, loiro de pele branca com um humor muito próprio, vendo o meu pânico, salta para a frente dos animais, baixa as calças mostrando as suas cuecas vermelhas e incitando com “ olé touro, olé…” tentando demonstrar-me quanto elas eram pacíficas mas, eu, de cabeça completamente perdida desato numa correria desenfreada pela encosta da Serra acima. O pessoal ria a banda larga do meu desatino e chamavam por mim. No meu desespero, correndo e olhando para trás não fosse vir alguma colada aos meus calcanhares fui devidamente e subitamente parada por arame farpado que, como será de prever, me rasgou calças, t-shirt, braços e pernas. As dores eram grandes, as vacas não queriam nada de mim e, quando regressei para junto do pessoal como o meu estado era deplorável foi gargalhada geral de tal modo que houve quem pelas pernas abaixo se molhasse todo e com a areia tentasse esconder o feito o que tornou a situação ainda mais caricata. Eu, cheia de cortes e com a roupa estragada e outros com as calças acastanhadas. O dia acabou com uma ida ao hospital e muito riso da minha parte pela fuga precipitada.